quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Intervalo Doloroso"

"Tudo me cansa, mesmo o que me não cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor. Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta, com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios da pouca água.
.Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar. Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? E quem é triste não pode esforçar-se. Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto queria abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me.
.Eu não teria o horror à vida como a uma coisa. A noção da vida como um todo não me esmagaria os ombros do pensamento. Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda-chuva contra um raio. Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e de actos. Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia. Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge, então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de que me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhecê-las durezas. Todos os pesos visíveis de objectos me pesam por a alma dentro.
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A minha vida é como se me batessem com ela."

sábado, 18 de setembro de 2010

Talvez daqui a uns tempos - muito tempo, pouco tempo, nenhum tempo, amanhã - levanto-me e acordo da minha estupidez. Vou amaldiçoar-me por este estado de espírito, este estado de alma, este sofrer sem dor. A tua memória não me pode doer, porque apenas enlaçamos as mãos. Não posso sentir falta de algo que nunca existiu.
Nada disto vale a pena.
E ainda assim eu sinto-o. Não sai de mim com a água do banho, o sabão que me lava não cobre o cheiro da solidão.
Tudo o que tenho de ti tu não me deste e eu não o posso devolver. Está comigo. Tenho de aprender a tê-lo e a saber o que fazer com isso. 

sábado, 11 de setembro de 2010

Quero-te de novo. Quero estar contigo.Quero que voltes a convidar-me para ir passear, para ir seja onde for, desde que estejamos juntos. Quero que digas outra vez o "bom dia", que digas de novo coisas inesperadas.
Quero estar junto a ti.
Quero o teu beijo na bochecha. Quero que me agarres nos teu braços e que brinques com o meu cabelo.
Olha os meus olhos. Quero olhar os teus olhos.
Quero tocar o teu cabelo, a tua face, as tuas mãos. Quero ouvir  tua voz. Quero de novo o teu perfume, esse perfume que junto à porta, o vento arrastou até mim.
Quero que tudo à nossa volta pare, que a Terra não rode, que o Universo seja apenas tu e eu. Quero as minhas mãos nas tuas. Quero as palavras certas. Quero os teus olhos, os teus lábios, a tua pele, o teu corpo. Quero-te todo. Quero-te a ti.