sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Assim soubesses tu compreender o teu dever de seres meramente o sonho de um sonhador. Seres apenas o turíbulo da catedral dos devaneios. Talhares os teus gestos nos sonhos, para que fossem apenas janelas abertas para paisagens novas da tua alma. De tal modo arquitectar o teu corpo em arremedos de sonho que não fora possível ver-te sem pensar n'outra coisa, que lembrasses tudo menos tu própria, que ver-te fosse ouvir música e atravessar, sonâmbulo, grandes paisagens de lagos mortos, vagas florestas silenciosas perdidas no fundo d'outras épocas, onde invisíveis pares diversos vivem sentimentos que não temos.

Eu não te quereria para nada senão para te não ter. Ainda que, sonhando eu e se tu aparecesses, eu pudesse imaginar-me ainda sonhando — nem te vendo talvez, mas talvez reparando que o luar enchera de (...) os lagos mortos e que ecos de canções ondeavam subitamente na grande floresta inexplícita, perdida em épocas impossíveis.

A visão de ti seria o leito onde a minha alma adormecesse, criança doente, para sonhar outra vez com outro céu. Falares? Sim mas que ouvir-te fosse não te ouvir mas ver grandes pontes ao luar ligando as duas margens escuras do rio que vai ter ao ancião mar onde as caravelas são nossas para sempre.

Sorris? Eu não sabia disso, mas nos meus céus interiores andavam as estrelas. Chamas-me dormindo. Eu não reparava nisso mas no barco longínquo cuja vela de sonho ia sob o luar, vejo longínquas marinhas."


quarta-feira, 8 de julho de 2009

domingo, 5 de julho de 2009

Deus tenha pena de ti

Correram os dias, desfilaram os anos,
caíram Invernos sobre a campa fria,
em cima dos outros dos tempos arcanos,
tão longos, tão lentos, tão tristes sofridos
na vida negada, sem paz e alegria.
Pesou-te a amargura dos prantos contidos
e envolvem-te as sombras a cobrir o dia
que nunca tiveste nos anos vividos.
Como a rocha nua num seco deserto,
nunca a primavera sentiste brotar,
nem ver tu pudeste, de longe ou de perto,
a chama da vida, perene e fugaz.
perene ou fugaz
Passaram os anos; ficaste a cismar
que o verão da vida foi tempo falaz
e que a flama erguida sobre o teu altar
era o fogo ardente de incêndio voraz.


Viveste esbatida na difusa luz,
crepúsculo triste de outono despido,
carregando aos ombros a pesada cruz.
E no inverno agreste, pesado também,
tão triste viveste no tempo perdido,
tão perto do mal e tão longe do bem,
que ao Céu vou pedindo, num tom dolorido,
que Deus tenha pena de ti, minha Mãe.


Por Ângelo Pires (Lis Pena Rego)

http://www.oregional.pt/noticia.asp?idEdicao=346&id=11482&idSeccao=3504&Action=noticia

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Insónia

Esta madrugada que é manhã. Este calor fresco.Esta frescura que me sabe pela vida. Acorda-me, aclara-me as ideias. Estas ideias que me teimam em querer sair pelos dedos a toda a força.
As ideias que não me deixam dormir. As ideias como fruto da extra-racionalização da minha mente.
Porque aconteceu isto? Uns momentos aparentemente insignificantes são o bastante para se cravarem no meu estado consciente durante dias. É doloroso, mas é assim. Ninguém imagina o quanto isto se entranha em mim. O quanto exaustivamente o meu cérebro reflecte, analisa, extra-racionaliza cada um daqueles momentos. Impossível esquecer.
Obrigada pelas oportunidades.

Frio da manhã, não és insónia, és clareza.
Frio da manhã, fecha agora os meus olhos, descansa a minha mente.