sábado, 29 de maio de 2010

Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite
traçado para a solidão doméstica.


Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desaparece
antes de ser dito e tu queres dormir descansada. Tens
direito a um subsídio de paz.


Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te
importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas
de manhã cedo.


Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o
o direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa
evidência me matar agora.


E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas:
porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas:
sabes que horas são?


Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite ainda
mais comprida, com a insónia, com as palavras
a despegarem-se dos pesadelos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estou parada e estou morta. Ando como que parada, são apenas os meus pés que mexem e eu não vejo, e eu não sei. Não sinto fome, não sinto o frio ou o calor, porque sinto apenas o não estares. Estou sozinha, e desejo a solidão. Sem ninguém eu estou só contigo, tu estás na minha cabeça e és tudo o que sinto. Tu não estás sozinho, estás comigo e és tudo o que penso na minha mente vazia.
(Quem me dera ter uma fotografia tua...!)
Os olhos na minha mente recordam. Os teus olhos nos meus.O teu cabelo, as minhas mãos no teu cabelo, o meu cabelo no teu cabelo, as tuas mãos no meu cabelo. Sozinha, a minha pele pensa, recorda. As tuas mãos nas minhas, a minha cabeça colada à tua. As minhas mãos nas tuas. Os nossos olhos, os meus olhos nos teus. O nosso olhar a cruzar-se. A tua boca e a minha boca. Os teus lábios, que mesmo tão perto, nunca tocaram os meus. O meu coração, as nossas mãos. Tu nas minhas costas, tu. Tu no meu pescoço.Respiras. Respiro. A minha pele lembra-se. Nós, o tempo, os teus olhos, nós.
A minha pele está nua e não sinto nada. Tu. A minha pele está sozinha.
Dói, mas é porque quero. Dói, mas é a única forma de te ter, de te ver. Penso em ti, e dói. Mas vejo-te, e mesmo doendo, és tu, e somos nós.

A minha cabeça está vazia

A minha cabeça está vazia de pensar em ti. A minha cabeça está vazia de pensar em ti.A minha cabeça está vazia de pensar em ti.A minha cabeça já não é, és tu. Fecho os olhos e vejo os teus olhos e o vazio. E o tempo pára, e começa outra vez o tempo contigo. E a minha cabeça vazia pára, e reencontra todos os momentos contigo, penso em ti. E já não sou mais eu para sermos eu e tu, e o passado, e o sonho.
Hoje vi-te e tu não me viste. Ontem vi-te e tu viste-me e não falámos. Hoje vi-te, tu não me viste, e falámos mais tarde, quando já não nos víamos. Vi-te, falámos e falaremos, mas eu não estou contigo. E a minha cabeça vazia trás de novo o passado enquanto grita para que se repita, e para que seja agora, mais uma vez.
A minha cabeça está vazia de pensar em ti e encontra a tua visão, tu hoje. E a minha cabeça relembra outras visões de ti e sonha com novas visões. A minha cabeça vazia relembra todas as palavras que trocamos e emenda as que não queria ter dito, e recorda a perfeição de tudo o que disseste, e tudo aquilo que gostava que tivesses dito e não disseste, mas eu senti que disseste no teu silêncio.
E sorrio para tudo isto, tudo o que a minha cabeça vazia de pensar em ti pensou. E sorrio, enquanto o meu coração geme e todo o meu corpo geme para te ter comigo outra vez.   

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Penso: talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem.